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há pastores que desestimulam denúncias de violência doméstica

Uma constatação triste marcou a última semana da psicóloga cristã, Marisa Lobo. Conhecida por sua luta em favor da família, a profissional viaja o Brasil dando palestras e ministrando em diversas igrejas, algo que já faz parte da sua rotina. Esses dias, porém, foram diferentes.

De forma sigilosa, Marisa recebeu alguns pedidos de socorro de mulheres, vítimas de violência doméstica, que lhe deixaram profundamente chocada. São pessoas que integram a membresia de igrejas cristãs, mas que por interesses religiosos são impedidas de denunciar os agressores.

“A mulher tem sido agredida, oprimida… e pior, pastores não deixam elas irem na delegacia da mulher e ainda ameaçam às vitimas espiritualmente, dizendo que se elas denunciarem trarão escândalo para a igreja”, escreveu Marisa em um comunicado para o Gospel Mais.

A psicóloga resolveu falar sobre o assunto após ser procurada pessoalmente por essas mulheres que disseram sofrer agressão dos seus maridos. O mais chocante é que todos eles possuem o título de “pastor”, o que lhe causou mais indignação.

“Estou horrorizada com a hipocrisia desses homens”, desabafou Marisa, revelando que esse tipo de denúncia tem sido frequente em seus ouvidos. “Este mês foram mais de 15 relatos”, disse ela.

Tentativa de suicídio

A psicóloga cristã afirmou que devido à opressão sofrida por essas mulheres, até mesmo tentativa de suicídio algumas já cometeram, tentando se livrar do sofrimento mascarado pela hipocrisia dos agressores. A ideação suicida, ou seja, quando se deseja a morte, também faz parte desses relatos.

“Em todos os meus cultos sobre família tenho falado sobre isso… do impacto negativo que essas agressões provocam em varias gerações”, disse Marisa, explicando em seguida que muitos desses líderes religiosos omitem esses casos por medo da repercussão negativa em suas igrejas.

Segundo Marisa, muitas mulheres que sofrem violência doméstica já denunciaram para outros pastores, mas alguns simplesmente ignoram o crime praticado por seus membros e até colegas, alegando conceitos distorcidos da Bíblia para evitar escândalos, demonstrando uma cumplicidade absurda com uma prática totalmente inaceitável aos olhos de Deus.

“Os últimos relatos são difíceis de acreditar! É impossível que exista conversão nessas mentes doentias. Falo doentias, porque muitas vezes esses homens estão reproduzindo a violência sofrida por suas mães [agredidas pelos maridos]”, explica Marisa.

“É uma inscrição psicológica… uma maldição [psicológica] que perpetua se não for curada, e os pastores por medo de escândalo se calam e tornam a mulher refém, responsável pelo escândalo caso denuncie”.

“Precisamos acabar com esse tabu”

Marisa Lobo disse que a dificuldade de falar sobre isso nas igrejas é devido ao “tabu” religioso envolvendo o tema.

Primeiramente ela explica que toda mulher que sofre violência doméstica deve denunciar à polícia, pois a prática se trata de um crime previsto na Lei nº 11.340/2006, popularmente conhecida como “Lei Maria da Penha”.

Em segundo lugar, Marisa também ressalta que não há base legal na Bíblia para defender a continuidade de um casamento onde o marido agride a mulher. Além do homem, nesses casos, ser um criminoso, ele deixa de cumprir a orientação de Paulo em sua carta aos Efésios 5:25-29, como está escrito:

“Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela, para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível.

Assim devem os maridos amar as suas próprias mulheres, como a seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo. Porque nunca ninguém odiou a sua própria carne; antes a alimenta e sustenta, como também o Senhor à igreja”.

“Muitos teólogos defendem que a chamada ‘cláusula de exceção’ do adultério pode ser entendida também no sentido moral, como o abandono do homem pela mulher, caracterizado pelo desrespeito e consequentemente agressões verbais e físicas”, diz Marisa.

“Nesse caso a traição é ao mandamento de Deus de amar um ao outro, como Cristo ama a Igreja, exatamente como ensina Paulo em Efésios. A mulher então fica livre para decidir encerrar uma união que não reflete o propósito de Deus para sua vida”, acrescenta.

“Violência doméstica afronta a santidade de Deus”

De fato, Marisa Lobo está plenamente certa. Segundo o pastor, conferencista e escritor Renato Vargens, “maridos que espancam suas esposas precisam ser denunciados e presos”.

“E digo mais: pastores e líderes evangélicos que encobertam casos como estes, precisam também ser denunciados, levando sobre si as penas da lei”, escreveu Renato em um artigo para seu blog, onde comenta o número de agressões sofridas por mulheres nas igrejas evangélicas.

“A violência contra a mulher é uma agressão ao Criador e em hipótese alguma as mulheres devem se sujeitar a qualquer tipo de agressão, denunciando o agressor às autoridades competentes a fim de que o sofrimento imposto pela violência cesse definitivamente em sua casa”.

Por fim, Marisa pede que os cristãos espalhem essas informações e não se calem diante desses absurdos. “Precisamos acabar com esse tabu e falar sobre essas agressões absurdas que existem e não deveriam existir dentro da igreja”, pontua.

“Se a igreja não tratar com severidade, esse comportamento [do agressor] não será extinto… porque está ligado a um sentimento traumático e negativo que tem força psíquica. Só damos ao outro o que temos, porém, muitas vezes o agressor não tem essa consciência, então a igreja tem a obrigação de ensinar, prevenir e punir”, finaliza.

Assista uma das palestras onde Marisa Lobo fala sobre esse tema, abaixo:



Fonte: Gospel Mais

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